Luís Barros • Chief Operating Officer and Architect
Falar sobre Smart Cities é falar sobre tecnologia, mas o território de reflexão é bem mais vasto. Integra mudanças nos sistemas territoriais subjacentes, nas infraestruturas que as alimentam e nas necessidades e atitudes de quem habita. Só com uma visão desta rede é possível construir cidades que, para além de inteligentes, têm de ser sustentáveis.
O debate tem-se centrado na tecnologia como o principal (ou único) impulsionador da mudança, mas décadas de experiência em cidades inteligentes demonstram que o planeamento urbano, a compreensão das necessidades dos cidadãos e a gestão cuidada das infraestruturas de suporte de vida – água, qualidade do ar, resíduos, etc – são tão fundamentais quanto a utilização das novas ferramentas digitais. Para que mudanças potencialmente disruptivas ocorram nesta escala, o setor público, o setor privado e a sociedade civil têm de trabalhar juntos para garantir rumos e soluções inteligentes na transição para a cidade inteligente.
Temos de pôr em movimento um processo urgente e imparável de reinvenção da cidade.
Várias cidades debatem-se atualmente com crises de superpopulação, consequente impacto urbano e escassez de recursos. Assimetrias sociais e económicas cada vez mais vincadas estão na génese de muitos problemas nas comunidades.
E aqui entra a tecnologia motor da reinvenção.
A tecnologia, a Inteligência Artificial e a Internet das Coisas devem ser ferramentas do planeamento integrado de cidades inteligentes para melhor responder aos desafios da sociedade urbana atual. Nos campos do BIM, realidade virtual, nano e biotecnologias estão a surgir igualmente soluções interessantes. Também a ciência contribui para a criação de respostas através da Big Data, que gera novas perspetivas e soluções para o imprevisto, para o ainda não pensado, inerente às estruturas dinâmicas – as cidades, as pessoas e os recursos.
Juntas, num resultado que é superior à soma das partes, estas ferramentas permitirão o progresso social e económico que desejamos alcançar agora e poder usufruir no futuro que construímos hoje.
Contudo, por mais que a tecnologia desempenhe um papel importante para facilitar a operação de uma Smart City, implantar sem critério todos os novos gadgets na sua infraestrutura municipal é tudo menos inteligente.
As Smart Cities têm de utilizar a tecnologia em plataformas para o desenho da cidade, para a organização da comunidade, para encontrar novas ideias, testá-las e criar mudanças positivas na sua vivencia. Cidades inteligentes procuram informações nos seus cidadãos, na sua história e cultura, aplicam metodologias ágeis de gestão e criam novos modelos de sustentabilidade e escalabilidade.
As Smart Cities utilizam estas bases de planeamento para serem projetadas para o uso ideal de espaço e recursos, juntamente com uma distribuição eficiente e ideal de benefícios. Visam também o aumento da conectividade entre os cidadãos e entre estes e a administração pública. Equipamentos públicos como as escolas, estradas e hospitais são melhorados, mitigando as várias redundâncias do sistema atual e economizando tempo e dinheiro.
À medida que a tecnologia evolui e permite análises mais cuidadas, a Smart City pode começar a ser projetada para ter flexibilidade para mudar e potenciar novos estilos de vida num futuro mais sustentável. As Smart Cities serão assim amigas do ambiente, utilizando dispositivos que podem acompanhar o nível de pureza do ar, utilização racional da água, gestão de resíduos, bem como outros fatores ambientais e relacionados à saúde.
Assim, a cidade inteligente conseguirá alcançar um estágio saudável apenas e quando satisfazer as necessidades sociais e psicológicas da população.
Uma Smart city é uma cidade em função da natureza e do Homem, apoiada na ciência e na tecnologia. É isto que a torna inteligente.