Bruno Pereira • Associate Director and Architect
Início de 2020, as cidades estão vivas com as suas dinâmicas próprias, Portugal, e Lisboa em particular, é cada vez mais o destino de eleição de centenas de profissionais liberais dos quatro cantos do planeta, para quem o trabalho à distância é já uma realidade há muitos anos. Esta exigência é a oportunidade perfeita para que espaços de escritórios continuem a proliferar e a diversificar a sua oferta de serviços.
O local de trabalho tem vindo a evoluir para um espaço informal e teoricamente mais confortável, sendo já uma percentagem significativa das áreas das empresas ocupadas por espaços de convívio como copas, cafetarias e lounges. Alguns espaços de trabalho facilitam até acesso ao ginásio, zona dedicado às artes, cabeleireiro e restaurantes com cozinha saudável. Os colaboradores das empresas preferem espaços de trabalho com os quais se identifiquem no seu dia-a-dia profissional e as entidades empregadoras, ao quererem atrair e reter jovens talentos, optam por disponibilizar aos seus colaboradores as melhores condições para trabalhar.
E, de repente, todo o nosso modo de vida se alterou em três, quatro semanas!
O COVID-19 veio levantar uma série de dúvidas em relação a estes espaços, obrigando os profissionais do setor nas diferentes partes do mundo a repensar o local de trabalho comum, e mesmo para as empresas também é um ataque filosófico e emocional à sua cultura. O local de trabalho, fator essencial para a “construção” da cultura das empresas, lugar para conectar, criar confiança, cultivar equipes, criar e compartilhar conhecimento, transforma-se de repente num espaço virtual, talvez numa cloud, enfim, numa tele-pandemia. Num mundo onde agora quase todos trabalham em casa e se encontram virtualmente, a cultura de uma empresa, na minha opinião, precisa de outras valências. Nestes tempos de mudança rápida, podem ser as pequenas coisas que são mais úteis para construir e sustentar uma ligação com a missão, o objetivo.
Várias questões surgiram e vão continuar a surgir, para quais as respostas podem ser como a vacina – podem demorar, e é necessário estar precavidos até lá…
Como é que as empresas, que trabalham em escritórios, se podem envolver virtualmente com os colaboradores e proporcionar-lhes um impacto significativo na experiência de trabalho remoto? Uma resposta será trabalhar remotamente – pode ser um desafio para as empresas, mas também uma oportunidade para desmistificar formas diferentes de trabalhar!
A Pandemia esvaziou milhares de escritórios por todo o mundo, e como será o regresso? Uma das coisas que sabemos é que o regresso ao normal será tudo menos normal e que as empresas terão grandes desafios pela frente nos próximos tempos e em relação ao espaço de trabalho haverá novas abordagens, sendo que na minha perspetiva irá obrigar a repensar os espaços existentes ao nível da sua conceção e utilização.
Uma nova tendência que se encontra em plena discussão chama-se “Six Feet Office”, que visa, através de conceitos e ferramentas, garantir a distância social dentro do espaço de trabalho, promovendo um ambiente mais seguro aos seus colaboradores através de um reposicionamento das secretárias e implementação de sinalética: em torno de cada mesa deve estar um círculo que mostra claramente quando se ultrapassa a barreira dos dois metros. Também no chão podem ser colocadas setas para encorajar os colaboradores a circularem de determinada maneira, por exemplo no sentido dos ponteiros do relógio. Ao criar um só sentido de tráfego poderá evitar-se a propagação de germes.
No fundo, as mudanças no design deverão resultar em mudanças de comportamento, constituindo assim uma das formas, sem grande investimento, de adaptação dos espaços atuais às novas realidades. Será um enorme desafio pensar conceitos, como centro de desenvolvimento de competências, interação e de novos modelos de trabalho mais flexíveis para espaços que promovam o distanciamento social.
Cabe ao arquiteto o papel de trabalhar com todas as condicionantes espaciais e sociais, procurando soluções criativas e técnicas, para que este momento se possa tornar numa aprendizagem coletiva.
A verdade é que, embora admirando de certa forma estas últimas tendências espaciais ao nível do “Office”, nunca fui um acérrimo defensor das mesmas.
O importante é que o desafio que hoje se coloca a este nível não deixa de ser desafiante, até porque vai implicar mudanças, alterações ao paradigma existente, de uma forma abruta, porque vai ser muito rápido, porque vai ser imposto direta ou indiretamente pelos utilizadores dos espaços.
Vamos ver o que vai acontecer a este nível no segundo semestre deste ano! Será com certeza mais um desafio á classe e aos seus pensamentos…