Desenhar o imediato para a classe média emergente: Desafios do sector da habitação no Vietname.

INTRODUÇÃO

O Vietname é um país considerado em desenvolvimento, localizado no sudeste asiático - Península Indochinesa - com uma população aproximada de 100 milhões de habitantes - dez vezes superior a Portugal - e uma área equivalente de 329,3 mil km² - 3,5 vezes superior à do território português.
Desde 1986, o país adoptou uma política económica chamada de renovação - Đổi Mới - transformando o seu sistema socioeconómico de planeamento central para uma economia orientada para o mercado. Esta reforma trouxe conquistas socioeconómicas significativas, com um crescimento médio anual do PIB de cerca de 7% nas últimas duas décadas e a diminuição da incidência de pobreza, de 58% para 14,7%. Actualmente, com cerca de 35,7% da sua população a viver em áreas urbanas, espera-se que em 2045 a percentagem de população urbana ultrapasse a população rural.
É neste contexto que se reflete sobre os desafios do sector residencial no moderno Vietname e contribuir, com a visão de Arquitecto, para a construção de espaços habitáveis, seguros e sustentáveis.

DESAFIOS ARQUITETÓNICOS PARA UMA CLASSE MÉDIA EMERGENTE

O advento da reforma socioeconómica de 1986 - Đổi Mới -, modificou paulatinamente, nos finais dos anos 90 e inícios da década de 2000, o ideal comunista, para um racionalismo de base individualista, capitalista e de economia de mercado, com forte expressão na urbanização e consequentemente no modos de fazer arquitectura.
Esta nova modernidade trouxe uma sensação de progresso que questionou a tradição e o passado, de base soviética. A nova população urbana, de origem rural, com princípios e modos de vida ainda alinhados aos valores agrários de então, abraçam esta nova modernidade com um forte entusiasmo pelas referências ocidentais, pela tecnologia, pelo domínio do homem sobre a natureza e pela rapidez da mudança.
O progresso e a melhoria das condições de vida são vistas como um mundo novo, de rápida procura e consumo, sem tempo de reflexão ou de usufruto.
Este progresso traduz-se em novas formas de trabalho, de crédito ao consumo, acesso a informação - que antes era inacessível -, descoberta de outras culturas, de outros modos de vida e de estar. Como resultado, emerge uma nova classe. A classe média - impossível de se revelar antes de 1986 devido ao comunismo.
A classe média do Vietname é das que mais cresce no Sudeste Asiático, actualmente. Esta classe está a atravessar uma rápida fase de “universalização” influenciada através dos valores da realidade social ocidental, desempenhando um papel decisivo nos gostos, atitudes e ambições. A cidade e a arquitectura, para além de terem um papel preponderante, fazem parte desta mudança e têm como agente dinamizador o Arquitecto.
Estas alterações socioeconómicas fazem-se num ambiente frenético, com expectativas de respostas imediatas ao nível urbano e arquitectónico. Aguarda-se impacientemente pelo resultado em detrimento do método. Valoriza-se o imediato em prejuízo da reflexão. Mimetizam-se soluções sem atender a critérios de qualidade. A classe média Vietnamita tenta, de todas as formas, reverter o tempo perdido e de privação que teve deste novo mundo.
E é aqui, nesta fase de descoberta do novo mundo, que o Arquitecto desempenha um papel de importância elementar, garantindo a qualidade do desenho dos espaços, priorizando o habitante como factor gerador de espaço, repercutindo no desenho arquitectonico o seu entendimento do genius loci.
Urge compreender esta nova classe média, no que respeita aos seus hábitos e expectativas e proporcionar um desenho arquitectónico sólido que personifique o tropicalismo da região, num processo holístico entre todos os intervenientes.
Caberá ao Arquitecto orientar e ajudar estes novos habitantes, com base na sua experiência e conhecimento local dos usos e costumes.
Vem a propósito como exemplo prático e emergente, através da necessidade de projectar rápida e freneticamente para esta classe social, a falta de reflexão sobre o desenho residencial, com soluções inóspitas e sem critérios de qualidade espacial, onde se valoriza a construção em vez da Arquitectura.
Os Vietnamitas, à semelhança dos Portugueses, têm por hábito viver entre diversas esferas espaciais de privacidade e de relações com o exterior. Ao desenhar uma habitação, as relações intra espaciais no binómio interior - exterior é de todo crucial, não só pelas características herdadas pelas gerações rurais Vietnamitas e da sua relação com o exterior imediato, como pela própria dinâmica tropical que o clima oferece.
A qualidade espacial aumenta em muito com a introdução do exterior no espaço social e de proximidade, elevando o habitat para níveis de conforto característicos de uma classe média ocidental.

CONCLUSÃO

A emergência e o rápido crescimento da classe média no Vietname tem tido um desenvolvimento significativo no cenário socioeconómico do país nas últimas décadas. Este factor, aliado à rapidez de respostas necessárias, implica que diversos mecanismos de fazer arquitectura sejam ignorados ou dispensados.
O Arquitecto e a sua vasta experiência é essencial de modo a que se valorize a qualidade arquitectónica e aumente substancialmente o nível do modus vivendi que esta classe aspira.
Para tal, é fundamental compreender os hábitos desta nova classe e proporcionar um projeto arquitetónico sólido que personifique o tropicalismo da região num processo holístico entre todos os intervenientes. A qualidade das relações espaciais entre o interior e o exterior é crucial, e o arquiteto deve priorizar o habitante como fator gerador do espaço, refletindo o genius loci no acto de projectar.