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Espaços de transição | Espaços intermédios

Por João Mendes, Arquiteto Sénior

“A arquitetura de museus encontra-se, desde a sua origem, intrinsecamente associada à configuração de espaços de passagem.”¹ A reflexão de Helena Barranha² sobre o Museu Louisiana – em Humlebæk, perto de Copenhaga – abre portas a um pensamento sobre os espaços de transição na arquitetura.

Por sua vez, Aldo Van Eyck³ dá-nos uma visão sobre os espaços intermédios e da fragilidade da relação entre os domínios público e privado quando não existem elementos de transição adequados entre eles. “A arquitetura deve ampliar esses limites estreitos, persuadi-los a converter-se generosamente em domínios intermédios articulados.”⁴

Partindo destes dois conceitos, faz-se uma reflexão sobre os espaços de transição e os espaços intermédios no projeto de habitação plurifamiliar GAIA HILLS, implantado sobre uma encosta na margem sul do Douro, em Vila Nova de Gaia.

Dada a morfologia do terreno e a geometria do loteamento, que implantam os volumes edificados em diferentes cotas e posições, são criados – naturalmente – percursos e plataformas sobre socalcos que, à semelhança da paisagem do Douro Vinhateiro definem áreas privadas de uso público e áreas privadas de uso exclusivo.

No caso do Museu Louisiana de Arte Moderna, “explora-se uma experiência de visita focada nos espaços de transição, através um itinerário simultaneamente real e ficcionado entre os edifícios, as obras de arte, o parque e o mar.”⁵

No GAIA HILLS⁶, esta visita leva-nos da cota baixa até à cota alta com momentos de pausa, através do anfiteatro, a praça, a floresta. O Douro liga-se ao parque verde através de espaços de permanência, espaços de transição, importantes ao enquadramento da área de intervenção com a cidade – mais do que olhar o edifício, esta intervenção olha o traçado urbano, amplificando a vista sobre o rio e o Porto.

São estes espaços de transição, desenhados pelo perímetro exterior do edifício em contacto com o vazio – um sem número de possibilidades –, espaços com carácter informal que permitem o convívio e a relação das pessoas. Mais do que isso, a arquitetura dos espaços torna-se contemplativa.

O desenho do anfiteatro reflete isso mesmo, apresenta-se como um espaço multifuncional, onde cada um que o percorre lhe atribui uma função. Premeia o convívio e, mais do que isso, a reflexão interior – a arquitetura torna-se um palco sensorial.

“Tira os sapatos e anda ao longo da praia pela última folha de água estreita que se move em direção à terra e ao mar. Sentes-te reconciliado de uma forma que não sentirias se existisse um diálogo forçado entre ti e qualquer um destes dois grandes fenómenos. Porque aqui, entre a terra e o oceano – neste domínio do intermédio (in the between realm), algo te acontece que é bastante diferente da nostalgia alternante do marinheiro. Não se deseja a terra desde o mar, não se deseja o mar desde a terra. Não se deseja a alternativa – não há escapatória de um para o outro.⁷

Num projeto com esta escala, facilmente ficaria esquecida a simultaneidade espacial que pressupõe o “domínio do intermédio” (“the in-between realm”). Na arquitetura, e neste exercício em específico, os espaços que melhor representam as características descritas por Van Eyck são aqueles que podem ser entendidos como o adensamento do espaço de comunicação entre dois lugares com características distintas: as entradas, os terraços, as varandas.

As entradas e os terraços

De que forma resolver a relação das habitações no piso térreo com o “assalto” à privacidade?

A transparência, recusada tantas vezes por museólogos e curadores, como refere Helena Barranha, não pode ser recusada quando falamos de habitação. A luz é necessária e, aqui concretamente, a vista impõe-se e obriga-nos a rasgar a fachada com grandes vãos.

Os espaços intermédios, físicos ou ascéticos, designados muitas vezes de espaços de intervalo são tão importantes para o contacto social, como as paredes grossas para a privacidade. É esta a resposta à relação interior-exterior.

A articulação entre o interior e o exterior consegue-se através de espaços que não pertencem à casa nem à rua. Assumem uma identidade própria onde dois mundos se sobrepõem.

Estes elementos servem, na grande maioria dos casos, para intermediar espaços públicos e privados, tanto na sua relação entre a rua e o interior, como entre espaços internos.

Um desnível pode diferenciar uma zona de circulação de uma de estadia, mantendo a aparência de um só espaço, mas gerando zonas distintas. As floreiras e os bancos, com carácter matérico, assumem muitas das vezes esse papel delimitador. Ainda assim, se colocarmos a narrativa num campo mais abstrato, as materialidades e a iluminação – ou ausência dela – também nos permitem a criação sucessiva de espaços.

As varandas

Nos edifícios Ágora e Parque o desenho das varandas assume o protagonismo na imagem do edifício. A sua geometria apresenta-se como uma trama permeável – um conjunto de prumos verticais e horizontais que vão enquadrando as vistas e adensando a relação entre interior e exterior. A simultaneidade espacial das varandas oferece aos habitantes consciência da transição entre zonas de características diferenciadas, o que na arquitetura japonesa se denominaria de engawa⁸.

O exercício de retirar, pontualmente, módulos de varanda permite-nos que as vistas não sejam orientadas, pode olhar-se em todas as direções.

Acrescenta-se, às varandas, uma segunda pele com a vegetação trepadeira que invade as habitações e as transforma – permitem a variabilidade da luz natural, ao longo dia e das estações e projetam as suas sombras nos compartimentos interiores.

Os espaços de transição e os espaços intermédios são decisivos enquanto incentivo à coesão e contacto social. A revitalização de espaços públicos e/ou privados de uso partilhado torna-se importante para que as pessoas se estimulem e se identifiquem com os lugares comunitários.

Numa altura em que o isolamento social se torna bastante evidente – estimulado pela ideia de que a pessoa se basta a si mesmo, renunciando o relacionamento com outros – o papel da arquitetura torna-se, mais do que um exercício artístico, um forte contributo social.






¹BARRANHA, Helena. “Espaços de transição – um percurso entre edifícios, no Museu Louisiana”, MIDAS [Online], 18 | 2024
²Helena Barranha é Professora no Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa e Investigadora no Instituto de História da Arte da Universidade NOVA de Lisboa (IHA-NOVA FCSH / IN2PAST), onde integra o Grupo de Museums Studies e coordena o Cluster de Arte, Museus e Culturas Digitais.
³Aldo van Eyck (16 Março 1918 – 14 Janeiro 1999) foi um arquiteto holandês e um dos principais protagonistas do movimento arquitetónico Estruturalismo. Foi membro dos CIAM e cofundador dos Team 10.
⁴VAN EYCK, Aldo [et. al.] – “Aldo Van Eyck. Stichting Wonen”, 1984
⁵BARRANHA, Helena. “Espaços de transição – um percurso entre edifícios, no Museu Louisiana”, MIDAS [Online], 18 | 2024
⁶Projeto GAIA HILLS (Edifícios Parque, Ágora, Douro e Gaia), 2020-presente
⁷VAN EYCK, Aldo [et. al.] ‘Aldo Van Eyck’, 1962
⁸Engawa (縁側) é uma faixa de deck, muitas vezes com acabamento em madeira ou bambu, que existe entre a periferia da casa japonesa e o jardim, coberta pela parte do beiral que se estende a partir do moya.

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