O escritório reimaginado

Conforto, pela sua definição, traduz um conjunto de termos que vou utilizar como arranque desta conversa escrita. Conforto pode ser um lugar e não simplesmente um propósito. Um lugar não é necessariamente um sítio, pode ser uma pessoa, é aquilo que nos remete para uma sensação de conforto extremo, a nível físico, mas principalmente emocional. Determina aproximação e, muito importante sublinhar, remete para o bem-estar e conforto proporcionado a alguém.

Este conjunto de palavras arrumadas em volta do conforto, sugerem também uma outra derivação que a sua designação mais simples, fez-me lembrar o arquitecto Raul Lino (1879-1974), e de uma frase que li num dos seus livros, e que desde então nunca mais deixou de povoar o meu pensamento quando olho para a arquitectura:

Afirmava ainda que a arte e a arquitectura são também elas um produto do homem para os homens, com história e genealogia, com características e funcionalidades do espaço e do tempo, e da comunidade que servem e para as quais foram produzidas. Era um homem defensor da tradição em contraponto com o modernismo, mas seria possivelmente um modernista da tradição.

A arquitectura, independentemente do seu tempo na história, mantém intactas algumas destas premissas, mas também deve ousar libertar-se da conotação de que deve ser intemporal e perdurar. A arquitectura tem várias escalas: a da cidade, a do bairro, a do edifício e a de um determinado espaço dentro do edifício - o seu interior, aquele que é vivido e experienciado com proximidade pelas pessoas. Sim, a arquitectura, se tivesse um princípio e um fim - não confundir com a sua função -terminaria na escala menor, começa no macro e termina no micro.

É um escritório, estúpido.

Desenhar espaços de trabalho encerra em si um conjunto de desafios e responsabilidades, pela sua especificidade, mas essencialmente pelo que pode fazer pela empresa e pelos seus colaboradores.

Os espaços de trabalho nunca foram tão determinantes para uma sensação de pertença, e para a atracção e retenção de talento como nos dias de hoje - predicados cada vez mais importantes no sucesso das empresas e para o futuro que querem construir. É fundamental que cada projecto seja único e irrepetível, tal como o é a cultura corporativa das organizações e as suas pessoas.
Conforto, flexibilidade e identidade são exigências prementes para os arquitectos que desenham espaços de trabalho. Estes devem ser rigorosos, dar importância aos detalhes, devem desenhar espaços elegantes, positivos e que possam apaixonar todos aqueles que o habitam.

O desenho e o paradigma dos espaços de trabalho mudaram radicalmente no pós pandemia: experimentaram-se modelos híbridos, procuraram-se soluções para que as pessoas voltassem ao local de trabalho, sem receios e carregadas de optimismo. Mas para que isso aconteça, os escritórios precisam cada vez mais de adaptações conceptuais e culturais que deem resposta aos desafios das empresas. Devem ser espaços que ofereçam múltiplas possibilidades, que sejam versáteis, adaptáveis, mas não menos importante, devem ser confortáveis, humanizados, sustentáveis, e obviamente, bem desenhados - uma causa e ao mesmo tempo efeito.

São estes lugares únicos que traduzem a identidade das empresas, os seus valores e a sua cultura de negócio, a sua marca e missão. O espaço de trabalho deve ser uma ferramenta de colaboração e aproximação de pessoas, proporcionando uma experiência diferenciadora, memorável, que não se repete em nenhum outro lugar. No fundo, um lugar confortável, com condições extraordinárias onde cada colaborador se sinta um “convidado”.

A nossa experiência diz-nos que os melhores profissionais com índices de satisfação elevados são os reais motores da produtividade e do sucesso empresarial. Os escritórios devem por isso, trazer sensações de pertença, promover experiências e potenciar as inter-relações entre todos os colaboradores, e no final do dia, mais felicidade.

Um escritório não é simplesmente um conjunto de mesas e cadeiras espalhadas por ali fora, também não é uma distribuição de espaços de trabalho individualizado ou em equipa, tão pouco um lugar para executar tarefas, com melhor ou pior localização, ou melhor ou pior luz natural. Um escritório deve ser um lugar para as pessoas, motivador, que potencie a criatividade, o desenvolvimento pessoal e as suas carreiras.

Por outro lado, também pode ser um lugar estimulante, disruptivo, que provoque emoções e seja sensorial, verdadeiramente inspirador, que tenha coração e não só razão; os espaços devem ter um propósito intemporal e ser desenhados de forma flexível e adaptável, devem responder eficazmente durante todo o tempo da sua utilização, dando um contributo determinante para o futuro, deixando boas memórias naqueles que o habitam. Sim, os escritórios, tal como as casas, são habitados, e tal como um lar perfeito, é um lugar com uma, talvez inesperada, capacidade de proporcionar conforto.