O Novo Aeroporto de Lisboa

No âmbito da S+Academy, espaço de debate aberto à sociedade, realizámos recentemente nas instalações da S+A uma Conferência sobre o Novo Aeroporto de Lisboa, que teve como oradores um painel de ilustres personalidades nacionais e internacionais, e contou com a participação de uma vasta audiência qualificada, num tema que naturalmente acompanhamos com especial entusiasmo e com impacto na nossa atividade.

Conforme é do conhecimento público, e após vários anos de estudos e debates, o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) – Aeroporto Luís de Camões, ficará localizado no Campo de Tiro de Alcochete, conforme decorre da decisão tomada pelo Governo na Resolução do Conselho de Ministros n.º 66/2024, de 27 de maio.

No que diz respeito às acessibilidades ao NAL e às infraestruturas de utilidade pública, em paralelo ao projeto do NAL existem vários projetos que permitirão assegurar a acessibilidade multimodal ao NAL, os quais estão a ser desenvolvidos pelo Concedente (Estado Português) e outras entidades, incluindo a Concessionária (ANA – Aeroportos de Portugal, S.A.).

A construção de um aeroporto, como o NAL, é um projeto de grande envergadura com implicações multifacetadas que abrangem aspetos económicos, sociais, ambientais e políticos.

No plano económico, constitui sem dúvida um empreendimento que impulsiona o turismo, o comércio e o investimento estrangeiro, gerando um impacto positivo na economia local e nacional. É igualmente determinante na criação de empregos diretos (construção e operações aeroportuárias), sendo ainda significativo na criação de empregos indiretos, caso dos serviços de apoio e turismo. Por seu lado, o desenvolvimento das infraestruturas aeroportuárias estimulará o desenvolvimento de indústrias adjacentes, como a logística e a tecnologia. Acresce ainda que um aeroporto moderno e eficiente melhora a conectividade global, facilitando o comércio internacional e o turismo.

Ao nível das implicações sociais, a construção e operação de um aeroporto cria milhares de empregos, desde funções especializadas até empregos não qualificados. Permite igualmente impulsionar o desenvolvimento de áreas circundantes, melhorando o acesso a serviços e oportunidades em diversos domínios. Atendendo a que a construção de um aeroporto poderá causar deslocamentos de comunidades e alterações no estilo de vida local, é essencial um planeamento cuidadoso para minimizar o impacto negativo e garantir benefícios para as comunidades locais.

No plano ambiental e ao nível da sustentabilidade, a construção de um aeroporto moderno deve incorporar tecnologias e práticas sustentáveis para minimizar o impacto ambiental, sendo essencial a compensação ambiental e a proteção de áreas sensíveis. Ao considerar estas implicações, é possível maximizar os benefícios e minimizar os impactos negativos da construção do aeroporto, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para o bem-estar da sociedade.
Para uma empresa de Arquitetura ou de Engenharia, participar num projeto de construção de um aeroporto é uma oportunidade ímpar, repleta de significado e potencial transformador. A magnitude e a complexidade destes empreendimentos oferecem desafios e recompensas únicas, que se estendem para além da mera construção de uma infraestrutura.

Desde logo, pelo impacto social e económico que atrás mencionei. Com efeito, os aeroportos são “portas de entrada e saída”, influenciando o desenvolvimento económico e a conectividade global. Ao poder contribuir para um projeto que molda o futuro de uma região, a atividade do arquiteto tem subjacente um trabalho de enorme responsabilidade. Constitui igualmente um enorme privilégio pela criação de espaços que facilitam a mobilidade e o intercâmbio cultural, deixando uma marca indelével na sociedade.

Para um Arquiteto, o projeto de um aeroporto acarreta igualmente desafios técnicos e de inovação extraordinários. Com efeito, os Aeroportos exigem soluções arquitetónicas inovadoras, desde a otimização do fluxo de passageiros à integração de tecnologias sustentáveis; pela oportunidade de trabalhar com equipas multidisciplinares e de explorar novas abordagens, o que constitui uma experiência enriquecedora; por outro lado, a escala do projeto impulsiona a busca por soluções criativas e eficientes, elevando os padrões de qualidade da prática arquitetónica e da nossa profissão.

Ao nível da sustentabilidade e da responsabilidade ambiental, a arquitetura tem um papel crucial na mitigação do impacto ambiental dos aeroportos. Na atividade do arquiteto, poder projetar edifícios eficientes energeticamente, que integram paisagens e minimizam a pegada ecológica, constitui uma prioridade na nossa profissão. Acresce ainda que a responsabilidade de criar infraestruturas sustentáveis, que coexistam harmoniosamente com o ambiente, constitui um compromisso ético de extrema relevância.

Por fim, e ao nível da visão e do legado, os aeroportos são marcos arquitetónicos que transcendem gerações. Poder contribuir para um projeto que se torna um símbolo de progresso e inovação é sem dúvida um legado duradouro. A possibilidade de moldar o futuro da mobilidade e de deixar uma marca na paisagem urbana constitui uma aspiração para qualquer arquiteto.

Pelo acima exposto, é igualmente um projeto com enormes desafios. Há que conciliar funcionalidade, segurança e estética num ambiente complexo; torna-se necessário integrar tecnologias de ponta e sistemas de gestão de fluxos de passageiros; é essencial garantir a acessibilidade e o conforto para todos os utilizadores; e, não menos importante, adaptar o projeto às necessidades futuras, antecipando o crescimento e a evolução da aviação.

Em suma, participar num projeto de construção de um aeroporto é uma oportunidade única de exercer a arquitetura no seu sentido mais pleno, combinando visão, técnica, funcionalidade, estética, qualidade e responsabilidade social.

No decurso dos cerca de 30 anos de atividade da S+A, tenho tido a oportunidade e o privilégio de participar e desenvolver diversos projetos aeroportuários e de infraestruturas associadas, em distintas geografias, caso do Brasil, Colômbia, Emirados Árabes Unidos e Portugal.

Regressando ao projeto do Novo Aeroporto de Lisboa, e sem prejuízo das atividades em curso, encontra-se ainda por selecionar a equipa que irá fazer parte da Estrutura de Gestão e Acompanhamento dos Projetos de Aeroportos (EGAPA), criada para acompanhar as negociações do novo aeroporto e o Contrato de Concessão, cujo coordenador-geral, nos termos da Resolução do Conselho de Ministros n.º 1-D/2025, de 17.01.2025, é nomeado pelo senhor Ministro das infraestruturas.

Dada a importância estratégica do projeto do Novo Aeroporto de Lisboa para o interesse nacional, com a crise política em curso, e a provável interrupção da legislatura, é importante que este dossier não seja novamente interrompido ou suspenso.