Falamos de arquitectos e de designers. De arquitectura e de design. São da mesma família mas não são irmãos. Talvez primos. De qualquer forma quando se dão bem é uma virtuosa união de vontades e de descobertas. Quando projectam juntos – métodos similares – todos ficam a ganhar. Quem encomenda, quem pensa, desenha e experimenta mas também quem frui.
Com origens e tempos de afirmação diversos estas duas disciplinas têm afinal conceitos operativos, não iguais, mas comuns e muito próximos.
Ponto, linha, cor são alguns – entre tantos outros – dos “ingredientes” estruturantes da materialização das ideias destes dois mundos.
Vivemos hoje tempos muito desafiantes porque as influências e as direcções são múltiplas e porque somos actores e espectadores em simultâneo. A própria relação com a inovação e o progresso é difusa. Como o foi na revolução industrial na já longa viagem daí até cá.
Lembremo-nos das posições de Ruskin e Morris que oriundos do movimento dos Arts and Crafts tiveram a pior reacção à chegada das máquinas que imaginavam iria tirar protagonismo ao trabalho dos artesãos e que enviariam para o desemprego muitos trabalhadores num quadro terrível de exploração.
Chaplin no inesquecível “Tempos modernos” é o paradigma.
A história nunca se repete mas agora, de fronteiras em permanente movimento, vemos pontos de ligação com esse tempo. Sendo a angustia o denominador comum tomando, claro, novas qualidades.
E a velocidade é o “moto” da contemporaneidade que tudo esmaga à passagem. As cidades líquidas, as realidades aumentadas e os novos paradigmas colocam todos os dias novos desafios.
E tem sido no cruzamento inevitável entre memórias, presentes e prospectivas que o Icograda (International Council of Graphic Design Associations) tem, desde os anos sessenta, reflectido e apresentado propostas embora com pouco eco entre nós apesar de Portugal, nos anos noventa, ter integrado a sua direcção e organizado na Gulbenkian o congresso internacional de design.
Tradicionalmente o World Graphics Day – que se comemora a 27 de Abril – serve para chamar a atenção para esta disciplina que tem tido desenvolvimentos díspares mas estimulantes consoante as latitudes.
Se estivermos atentos, encontramos cada vez mais fortes relações de (boa) vizinhança e (bom) diálogo entre arquitectura e design que tiveram um impulso decisivo nos anos trinta na Bauhaus e depois, nos anos cinquenta, na Escola de Ulm também na Alemanha, menos importante, mas continuadora desse legado. A Bauhaus sob a direcção de Walter Gropius e Ulm sob a inspiração de Max Bill. Foram experiências cimeiras destas relações electivas e tão fundamentais pelo que questionaram, estudaram e influenciaram as gerações vindouras.
Mas não só entre estas duas áreas. A arte esteve sempre presente transversalmente, como a moda já com grande autonomia o tinha feito e ainda o saber fazer e dar corpo aos desenhos e maquettes que procuravam abrir novos horizontes. Afinal o ponto de chegada de todo um complexo processo conceptual. Sempre radicais, as propostas saídas destas escolas incomodaram não poucas vezes o “mainstream” da época com gravíssimas pressões e políticas. Ainda hoje postulados saídos da Bauhaus esbarram na incompreensão de ideias feitas. O estudo e as propostas de cor são disso exemplo. Itten e Albers influenciaram decisivamente a nossa compreensão deste complexo universo com resistências à sua incorporação no ensino e nas práticas profissionais.
Afinal as datas comemorativas servem para isto mesmo.
Ajudar a lembrar, a descobrir, a ver e a ser visto numa disciplina plural, polissémica e tão estimulante.
Como dizia Paul Rand: porque o design é tudo. Tudo!