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Lisboa em altura: crescer sem perder a alma!

Por Miguel Saraiva, CEO & Founder and Leader Architect S+A

À semelhança do que ocorre em muitas cidades do mundo, Lisboa, cidade de colinas e de luz, deve merecer a nossa reflexão e pensamento, bem como um debate sobre o seu futuro vertical. A construção em altura, tema que tantas paixões e controvérsias suscita, tem colocado em rota de colisão a preservação da identidade histórica e as pressões do crescimento económico e
demográfico. Neste artigo de opinião, pretendo explorar as múltiplas facetas desta questão, defendendo um desenvolvimento criterioso e planeado que modernize a cidade “sem descaracterizar a sua alma”. Serão assim abordados e tomados em consideração, o peso da história e a malha urbana da cidade, a equação económica e social, os desafios técnicos e a sustentabilidade, bem como definida uma visão para o futuro da cidade, que tem em consideração a oportunidade de construção do Novo Aeroporto de Lisboa.
 
O Peso da História e a Malha Urbana
A identidade de Lisboa está intrinsecamente ligada à sua topografia acidentada e a uma malha urbana que evoluiu organicamente ao longo de séculos. Desde a Mouraria e Alfama, com as suas ruas sinuosas, à Baixa Pombalina, exemplo de resiliência e planeamento iluminista, a cidade apresenta uma diversidade de tecidos urbanos que contam a sua história. A preservação deste património arquitetónico e da paisagem singular, marcada pelas “sete colinas”, é um pilar fundamental da identidade lisboeta.

A legislação urbanística, como o Plano Diretor Municipal (PDM), tem procurado, com maior ou menor sucesso, gerir o crescimento, estabelecendo regras para a volumetria e altura dos edifícios. No entanto, a pressão imobiliária tem levado ao surgimento de projetos que desafiam a escala tradicional da cidade, gerando um debate aceso sobre o impacto visual e a descaracterização de zonas consolidadas. A construção em altura, quando inserida de forma aleatória no coração da cidade histórica, arrisca-se a criar uma disrupção visual, quebrando a harmonia e a leitura da paisagem urbana.

A Equação Económica e Social dos Projetos
Do ponto de vista económico, a construção em altura apresenta-se, à primeira vista, como uma solução para a escassez de espaço, com a consequente inflação dos preços do imobiliário. A concentração de habitação, escritórios e hotéis em edifícios de grande porte pode, teoricamente, otimizar o uso do solo
e reduzir os custos de infraestruturas. Projetos de grande altura, com apartamentos de luxo, escritórios para grandes empresas e hotéis de renome, prometem um retorno económico significativo para os respetivos promotores.

A dimensão social dos projetos deverá, contudo, operar sob uma lógica distinta e mais promissora. Em vez de inserir torres em bairros históricos, deslocando comunidades, a proposta que preconizo consiste em substituir uma infraestrutura poluente e geradora de ruído por uma nova centralidade urbana planeada de raiz. Esta opção traduz-se em ganhos inequívocos na qualidade de vida para as zonas circundantes. O desafio primordial da acessibilidade à habitação mantém-se, dado o custo da construção. No entanto, um projeto desta escala e natureza permite que o planeamento urbanístico seja a solução: é a oportunidade de consagrar, desde o início, quotas significativas para habitação, arrendamento acessível e diversidade social. Assim, a verticalização não seria um motor de gentrificação, mas uma ferramenta para criar um bairro inclusivo e vibrante, aliviando a pressão imobiliária no resto da cidade e transformando uma barreira urbana num novo pulmão verde e edificado.
 
Desafios Técnicos e Sustentabilidade
Erguer edifícios em altura, em Lisboa, acarreta desafios técnicos consideráveis.
A cidade encontra-se numa zona de sismicidade moderada, o que exige soluções de engenharia avançadas e dispendiosas para garantir a segurança estrutural. As condições geológicas do solo também variam significativamente, impondo estudos aprofundados para cada projeto.

Além disso, a concentração de milhares de pessoas em arranha-céus coloca uma enorme pressão sobre as infraestruturas existentes. A rede de abastecimento de água, o saneamento, a distribuição de energia e as telecomunicações têm de ser dimensionadas para esta nova realidade. Do ponto de vista ambiental, os edifícios em altura podem ser desenhados para
serem energeticamente eficientes, incorporando tecnologias de aproveitamento solar, isolamento térmico e sistemas de gestão de água.

Uma Visão para o Futuro: A Oportunidade do Novo Aeroporto
O futuro da cidade de Lisboa não passa por uma rejeição dogmática da construção em altura, mas sim pela sua integração inteligente e planeada. A solução não reside em salpicar a cidade consolidada com torres desgarradas, mas em designar zonas específicas para um desenvolvimento vertical, onde este possa ser implementado de forma harmoniosa e sustentável.

Neste contexto, a eventual deslocalização do Aeroporto Humberto Delgado representa uma oportunidade única e histórica para repensar o paradigma urbano de Lisboa. Os vastos hectares que seriam libertados oferecem a “tela em branco” ideal para a criação de uma "cidade jardim" do século XXI. Neste novo bairro, poder-se-ia programar um desenvolvimento urbano que contemple edifícios em altura com uma diversidade de usos – habitação, escritórios, comércio, equipamentos culturais e de lazer – rodeados por amplos espaços verdes e com uma rede de transportes públicos de excelência.

A criação de um novo skyline nesta área, visível a partir de diferentes pontos da cidade, poderia simbolizar uma Lisboa moderna e contemporânea, que abraça o futuro sem apagar o seu passado. Esta nova centralidade, concebida de raiz com base em princípios de sustentabilidade e qualidade de vida, permitiria aliviar a pressão sobre o centro histórico, preservando a sua
identidade e devolvendo-o, em parte, a uma vivência mais autêntica e menos massificada.

Em suma, a construção em altura em Lisboa deve ser encarada não como uma inevitabilidade a ser aceite passivamente, mas como uma ferramenta de planeamento urbano a ser utilizada com mestria e visão de futuro. Ao canalizar o desenvolvimento vertical para zonas estrategicamente definidas, como os terrenos do atual Aeroporto, Lisboa pode evoluir para uma metrópole mais equilibrada, inclusiva e sustentável, honrando a sua história enquanto constrói um futuro à sua altura.

O debate sobre a construção em altura em Lisboa apresenta-se como momento único para o urbanismo português. A futura saída do Aeroporto oferece a oportunidade histórica de planear de raiz uma nova centralidade moderna, sustentável e com identidade própria.

Setembro 2025

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